MERCADORES DE LIBERDADE
Final de semana passado o IFA-RHADHÁ DE ART NEGRA inicia a circulação do espetáculo "MERCADORES DE LIBERDADE" em povoados denominados de QUILOMBOS do Estado de Pernambuco, sabe-se que Quilombo são locais para onde iam negros, negras fugitivos do regime de escravidão que existia no Brasil Colonia, um dos mais conhecidos pela sua resistência e luta contra dominação dos senhores brancos, "que se achavam donos das terras e das pessoas" Quilombo do Palmares, localizado na Serra da Barriga, sengundo historiadores concentrou de 15 a 20 mil quilombolas, lá plantavam milho, banana, mandioca, laranja, cana-de-açucar, para subsistência de todos, teve como liderança ZUMBI DOS PALMARES, hoje em dia são povoados que enfretou ou enfrenta descaterização em nome do desenvolvimento e a historia vai se perdendo cada dia que passa, por falta de ações afirmativas da identidade dos quilombolas.
O IFÁ-RHADHA DE ART NEGRA com o MERCADORES DE LIBERDADE vem suprir esta lacuna de levar para algumas terras remanescentes de quilombo em Pernambuco dialogando com os afros descendentes da importância da memoria histórica do povo negro no Brasil. Então iremos prosseguir com a ação até o mês de novembro, destacando que será importante para todos que fazem o IFA-RHADHÁ como forma de trocar conhecimentos com pessoas dos quilombos.
MERCADORES DE LIBERDADE
ROTEIRO/TEXTO
DO ESPETÁCULO
Olinda, 20
de junho de 2007
PRIMEIRO ATO
1ª CENA – A
CRIAÇÃO
(TODOS OS
ATORES EM
CENA DESENVOLVEM LOUVAÇÃO E EXPRESSÃO COREOGRAFADA UNIFICANDO
SOM E MOVIMENTO CORPORAL E CANTO, APÓS SEQUÊNCIA TODOS SAEM PARA DA PASSAGEM A
OUTRA CENA)
Simbolismo da criação do mundo com expressão
corporal, o despertar de um povo, o reconhecimento do espaço e os marcos de
existência e esperança de um povo. O Surgimento através da concepção da
negritude, o surgimento do homem no àiyé, a África é o VENTRE FÉRTIL DO MUNDO.
Orumilá com seu saco da criação começou a povoar o àiyé.
2ª CENA –
APRESENTAÇÃO DO ESPETÁCULO
OJUOBÁ - Senhoras e senhores
Moças e rapazes
Todas e todas
Cordial Boa Tarde
Axé para quem é do Orixá
Saravá para quem é do
Encantamento da Jurema Sagrada
Aleluia para quem é da Santa
Igreja
Paz do Senhor aos irmãos em Cristo Nosso Senhor
Um compromisso de falar uma
informação
Correta e verdadeira
Traz-nos aqui
Sim, porque durante anos
vivemos a mercê
De informações incorretas e
injustas
Sempre caminhando sem a luz
do conhecimento
Mergulhados no erro
Não percebendo a nossa beleza
Que também
somos seres humanos.
OUTRO - E estamos aqui
Para contar e mostrar para
vocês
Fatos e imagens
Dessa cultura que veio a
contribuir
Para a formação da nação
brasileira.
Não esquecendo por hipótese
alguma
Da mãe África ventre fértil
do mundo
Berço da humanidade
OJUOBÁ - África berço da humanidade?
OUTRO Por que não? África berço da humanidade,
início e princípio de nossa ancestralidade.
OJUOBÁ Pensando bem, tu tens razão. É
preciso que todos saibam que de qualquer maneira grande parte da cultura
brasileira advém e reside no episódio da história da humanidade, onde negras e
negros aos milhares foram trazidos do continente africano.
OUTRO - De vários pontos do continente africano
como Guiné, Angola, Costa da Mina, Congo, Moçambique, foram trazidos para a
Bahia, Rio de Janeiro, Maranhão e Pernambuco.
OJUOBÁ - E com todos esses negros vieram costumes,
hábitos e tradições que então aqui no Brasil se fundiram e deu-se o surgimento
de uma maneira própria e diferente de fazer e produzir a cultura brasileira.
ATOR - Mas tem uma coisa senhores e senhoras
não pensem que foi fácil continuar a fazer tudo que lá na África, estávamos
acostumados a fazer cultuar nossos deuses por exemplo.
Nada disso, quiseram fazer
que nem fizeram com os nativos promoveram uma espécie de mudanças de costumes e
os índios que não se habituassem a abandonar seus costumes a sua religião banidos a própria desgraça.
OJUOBÁ - Aqui no Brasil caímos nas teias
da ganância humana, homens que se dizia representante senhores dono das terras.
Imaginem só... Donos das terras...
E a terra tem dono?
Até que ponto o ser humano
pensará e viverá na ilusão de que pode controlar a natureza.
ATOR - Não podemos concordar de forma alguma
com esse pensamento. O que querem fazer com nosso planeta?
OJUOBÁ - E falar das terras Brasilis não podemos
esquecer que antes de nós viviam aqui os índios, portanto quem poderia ser dono
da terra eram eles.
Também foram suplantados pela
ganância humana. Em diversos momentos da história humana encontramos o homem
querendo escravizar o outro homem, perderam totalmente os valores. Talvez para
demonstrar força, superioridade e poder.
ATOR - Estamos todos aqui negros, negras,
brancos, amarelos, índios, gordo, magro, alto, baixo, em fim todos tentando
solidificar o projeto grandioso que é a nação brasileira, respeitando a
religiosidade, orientação sexual, diferenças de cada um dentre outras coisas.
OJUOBÁ - Sem contar também aqueles que pensavam
iguais a nós, agia juntos de nós, no entanto agora nos dão as costas. Procuram
se aliar a aquelas pessoas que pensam em possuir superioridade, riquezas matérias
e o que é pior, de mais desprezível é usar da violência, chegando ao ponto de
até matar seus semelhantes.
ATOR - Não podemos de forma nenhuma ser
conivente com essas barbaridades. Certo pessoal? ( PARA A PLATÉIA).
OJUOBÁ - Estamos insistindo, resistindo, fazendo a
diferença para que um dia orgulhosamente
iremos ver e gozar essa tal liberdade de expressão.
Um sopro de liberdade
atravessa.
Passa a minha frente,
Purificando-me,
Fazendo entender o sentido da
vida
A corrida busca encontrar a liberdade
Anos passam e este encontro
não acontece.
Liberdade a ser vivida
Exprimindo desejos,
Desafios,
Vida,
Presa
A criação dos homens
Marionete
Emaranhada em cordões
Escravo da sua
própria teia,
Algemas do desenvolvimento
Paralisante
ATOR - Liberdade
Olhando para frente,
Sem ter medo do próximo passo
Com convicção e segurança,
Basta de injustiçados
Liberdade
Contra este sistema que nos
maltrata
Levar a óbito é possível,
Mais somos resistentes
Não é a toa que em nossas
veias
Correm o sangue de Zumbi dos
Palmares
Correm o sangue de
Malunguinho
E que nos guarda de todos os
perigos
Move-nos e nos guia para a
vitória
Vitória dos injustiçados
Vencendo guerras e batalhas
Vencendo e ultrapassando
Os obstáculos da maldade
Maldade que nos sufoca
Mais não há de nos matar
A vitória está bem próxima
Mesmo que sangue ainda
correrá em nossas veias
Em estado de ebulição
Não havendo necessidade de
eclodir
A vitória a liberdade é um
fato consumado
Para todos e todas
Mercadores da vida liberta
Guerreiros e
Gueirreiras de OYÓ
3ª CENA – ANCESTRALIDADE E RELIGIOSIDADE
MÚSICA – ADARRUM
(COREOGRAFIA REPRESENTANDO A
NOSSA RELIGIOSIDADE COM O FOCO SIMBÓLICO NO CANDOMBLÉ COM AS IABÁS, IAYÓ,
ORIXÁS REPRESENTANDO A PERPETUAÇÃO, ATRAVÉS DA ORALIDADE, PARTE DE NOSSA
CULTURA ANCESTRAL QUE CHEGA ATÉ OS NOSSOS DIAS)
ATOR - NAVIO NEGREIRO TRAZIA NEGROS? NÃO,
TRAZIA POESIA E SABEDORIA, INTELIGÊNCIA HUMANA DA MELHOR QUALIDADE, Aqui
residem os princípios da oralidade de nossa cultura e que nos traz ao presente a história que contamos em versos e
prosas, como forma de perpetuar e nos conduzir com firmeza ao futuro. Sem medo
e sem nos envergonhar de nossa riqueza cultural.
OUTRO - Há! É preciso o saber conhecer
desconstruindo a imagem que se tem de Exu, Ogum, Xangô, Iemanjá, Oxum, Oxossi,
Iansã, Oxalá, nossos deuses que são ligados cada qual a uma força da natureza
com seus mistérios com seus encantamentos. Hoje para nós são princípios da
ancestralidade e religiosidade bem presente na vida de cada um.
ATOR - A história que contamos aqui é para
auto afirmação dos negros e negras que desconhecem a sua origem se envergonham
de viver os nossos valores. Os ensinamentos que nos guia amando a natureza e o
espaço cultural que vivemos. Preservação dessa natureza que é necessário para
viver sintonia e harmonia.
OUTRO - Também o chegou até nós, foi que o
negro por ser preto é coisa ruim, tudo que vem do negro nada presta.
Isso por culpa dos meus de
comunicação de massa.
O jornal, o rádio, a televisão... E para contribuir
mais ainda com essa péssima condição, as poucas oportunidades que são
oferecidas nas escolas para os negros.
Quando um consegue chegar ao topo é porque mostrou
três vezes mais que tem competência e sabe desempenhar qualquer atividade no
campo da intelectualidade também.
4ª CENA – CULTURA AFRO-BRASILEIRA
(FUNDO
MUSICAL SAMBA DE ANGOLA)
SE ESSA NEGRA FOI MINHA
CHAMAVA PRO SAMBA JÁ, JÁ
DAVA UM
BEIJO NELA
QUE ELA
DIZIA VOU JÁ...
CHEGA O MEU AMOR
VEM PRÁ RODA DE SAMBA
QUE EU
TAMBÉM VOU...
ATOR - Olá João quanto tempo...pelo visto ta
aproveitando bastante o samba...Isso é bom. Por onde andava?
OUTRO - É compadre só queria que no trabalho
fosse brincando e aprendendo.
Mais não é assim! Continuo
naquela mesma vida de sempre. Trabalhando muito lá na escola. Que você bem
conhece. Sabes compadre sempre tenho contribuído para dar visibilidade a nossa
cultura afro-brasileira, que nos foi herdada dos nossos antepassados.
Mais tenho encontrado uma
dificuldade tremenda em desenvolver o trabalho.
ATOR - Como assim Compadre?
OUTRO - É compadre a maioria do corpo de
professores daquela escola tem resistido muito quando faço uma aula prática, ou
melhor, levo um batuque para sala de aula. Dizem logo é Xangô... e
feitiçaria...imagine que disparato.
ATOR - Como é Compadre? Os professores ainda
estão com este pensamento? Desconhece a obrigatoriedade do ensino da cultura da
África e Cultura afro-brasileira no currículo escolar?
Não deve acontecer uma coisa
desta. E a lei 10.639 de 09 de janeiro de 2003 é bem clara.
OUTRO - Acho que a coisa vai demorar ainda um
pouco mais.
ATOR - Por isso compadre pois é...que haja
uma divulgação maior sobre essa tal Lei. Fazer com que todos entendam a
necessidade.
OUTRO - É compadre por isso que continuarei com
o trabalho, que não é de agora é de muito tempo. Sempre foi inspirado nas
péssimas condições do povo negro em nosso estado.
ATOR - Realmente a condição não é lá nada
boa. A começar pelos que continuam morando nas favelas, nos morros, sejam
negros, brancos, pobres, índios, precisa-se dar um basta nisso.
OUTROS - As condições de vida de quem moram na Ilha
de Deus, Chão de Estrelas, Casa Amarela, Santo Amaro, Pina não são dignas de
descendentes e guerreiros como Zumbi dos Palmares, Solando Trindade, Dona
Santa, Acoltirene, Malunguinho e tantos outros negros.
(ENTRAR MÚSICA INSTRUMENTAL BAIXINHA, FAZENDO UM
FUNDO MUSICAL, COM O CUIDADO DE NÃO SER MAIS FORTE QUE A VOZ DO ATOR....QUE
SEJA UM BERIMBAU......OU INSTRUMENTO OUTRO SUAVE....)
ATOR - Negros da cor da noite
Homens e mulheres
Que deram seu sangue,
O seu trabalho
Lutando todas e todos unidos
para um só propósito,
Em um passando
Não muito distante,
Combater toda espécie de
tirania,
Combater atos escusos e
tirânicos
Para garantir o que temos
hoje
Como forma de assegurar
dignidade
Para todos e para todas
Que aqui ainda em vida
Contribui para uma nação mais
solidária, mais igualitária
Não vou parar enquanto haver
vida
E parar sim de uma vez por
todas a força
Dos tirânicos que vivem na
espreita da vida
Não sou eu quem vai se
descuidar
Para que ele ganhe espaço
Não!
Estamos alerta como sempre
Sempre Mercadores de
liberdade
Somos necessários
Somos mensageiros
Vamos levando empoderamento
Para todos aqueles
Amantes da liberdade de
expressão
Viva a Liberdade não tardia!
OUTRO - Ogum Deus Justiceiro
Venha semear a paz em vez da
guerra
Entre os homens e
mulheres
De boa vontade
Com sua espada reluzente e
empunhada
Corte todos os males
Que nos atormenta e que nos
persegue há muito tempo
Que nos proteja
Contra todo o perigo que
teremos de encontrar
Ainda no caminho pela frente.
Ogum filho da Bondosa Iemanjá
e Ododua
Seja piedoso não nos abandone
Ogunhê meu pai...
(COREOGRAFIA
PARA AO MESMO QUE DEMONSTRA A DANÇA SAUDANDO O ORIXÁ OGUM, TENTAMOS PASSAR
TAMBÉM O VIGOR DE COMO ENCAMINHAR AS QUESTÕES DA NEGRITUDE, SEM SE ABATER A
QUALQUER OBSTÁCULO, DEVEMOS SEGUIR O NOSSO LIDER MAIOR ZUMBI DOS PALMARES QUE
NUNCA SE ABATEU, MESMO QUANDO A SUA MORTE, COMPREENDEMOS QUE A LUTA DEVERÁ
CONTINUAR SEMPRE, TODOS OS ATORES DANÇARINOS FARÃO A DANÇARÃO E CANTARÃO ATÉ O
TÉRMINO DA CENA)
OGUNDÊ ARERE
YLÊ, YLÊ OGUNJÁ
ORUMADE
ARERE
YLÊ, YLÊ
OGUNJA
5ª CENA – A RESISTÊNCIA DO NEGRO
O negro não
é libertino
O Negro é liberto pela própria essência
Mais querem fazer do negro
Submisso, capacho, serviçal
E ainda falam em liberdade
Quando o
negro é manchete
É nas páginas policiais
De uma folha qualquer da vida
Mais nós negros e negras
Estamos existindo, resistindo
E garantindo a nossa existência
Seja lá onde for.
(COREOGRAFIA
REPRESENTANDO O MACULELE UMA DANÇA GUERREIRA E ENCERRANDO COM A CAPOEIRA, QUE
TERÁ O SIMBOLISMO DA RESTISTÊNCIA DO NEGRO, DURANTE OS TEMPOS)
SEGUNDO ATO
6ª CENA –
CÂMBIO NEGRO
(ATOR ENTRA PENSATIVO E PREOCUPADO, LOGO APÓS ENTRA
OUTRO ATOR OBSERVANDO, OUVINDO ATENTAMENTE O QUE ACONTECIA, PERCEBE OUTRO E
COMEÇA A DISCUSSÃO)
ATOR - Bem que te falei antes. Aquela situação não
ia demorar muito tempo. Ele era pobre e para completar também era negro.
OUTRO - O
que isso tem haver com a questão e a sua preocupação?
ATOR -
Tem tudo haver ele era amigo de longas datas e acabar daquele jeito. Não podia
ter acontecido isso justamente com ele. Tinha tudo não lhe faltava nada.
ATOR -
Mais também ele foi se envolver justamente com aquele bacana, metido a cavalo
do cão. Daí o pau só cai nas costas dos mais fracos. Tu não sabes que no Brasil
isso é rotina. Ele confiou demais naquela pessoa Boa pinta...Boa
aparência...naquele tremendo carão só deu ele na cabeça.
Por
enquanto ainda temos que contentar com o pouco fruto de nosso trabalho honesto.
E não se envolver com o duvidoso. Desde muito tempo travamos uma luta imensa
para mudar este imagem que fazem do negro. Dizem que tudo de negro é ruim é
tudo relacionado com o mal. O cabelo é ruim? Nada disso o cabelo carapinhado, é
pixaim e isso nada interfere na natureza da pessoa no caractere da pessoa.
ATOR -
Foi isso que falei para ele. Falta de aviso não foi. Segunda a polícia ele
estava envolvido com o tráfico de drogas, sem contar com o tráfico de seres
humanos. Ai a coisa ficou mal para ele. Eu que não queria passar pelo ele está
passando. Dizem são duas coisas muito lucrativas. Mais enfim não podemos fazer
nada por ele.
7ª CENA –
MERCADORIAS DE BAIXO PREÇO
(OS
NEGROS ENTRAM DE UM LADO OLHANDO PRA BAIXO, UM COM O BRAÇO EM CIMA DO OMBRO DO OUTRO, TRÊS ,
ATRÁS MAIS TRÊS, ATRÁS MAIS TRÊS. TODOS GEMENDO.....GEMENDO. EM CIMA DESSA PIRÂMIDE
DEVE VIR UM ATOR.... COM CHICOTE OU ALGO PARECIDO.....GRITANDO PARA FAZEREM
SILÊNCIO....ELES, ENTREM OS GEMIDOS PEDEM ÁGUA, COMIDA, CHAMAM POR
OLORUM... VÊEM LENTAMENTE QUANDO CHEGAR
AO CENTRO, O QUE ESTA EM CIMA DESCE VAI DESAMARRANDO UM A UM E
COLOCANDO EM UM TRONCO IMAGINARIO ,
O NEGRO FICA COM OS BRAÇOS AMARRADOS.)
ATOR 1 - ATENÇÃO SENHORES ACABA DE CHEGAR MERCADORIA DA
MELHOR QUALIDADE, COM SAÚDE PRA ENFRENTAR O EITO.
ATOR 2 –
QUANDO CUSTA? É DA MESMA RAÇA?(VAI PARA OS NEGROS E OLHA OS DENTES) TEM SAÚDE
MESMO OU É SÓ HISTÓRIA?
ATOR 1 –
CINCO CONTOS DE RÉIS, TEM BOM HÁBITO, DIZ QUE LÁ ERA PRINCIPE.
ATOR – 2
– VAMOS VER SE É BOM DE ENXAIDA, PAGO TRÊS E OLHE LÁ...
ATOR 1 –
TÁ FEITO.(VAI ATÉ O NEGRO DESAMARRA DO TRONCO LEVA ATÉ O COMPRADOR A CENA CONGELA)
(ENTRA
OUTRO ATOR)
ATOR 3 –
Vim para lembrar que o passado não esta muito distante, famílias foram
separadas, perdidas para sempre, negros importantes para suas comunidades, se
acabaram nos canaviais. Vim para lembrar que em Canudos de Antonio Conselheiro,
os negros lutaram contra o exército brasileiro e foram degolados; que a casa
grande não foi totalmente destruída e a
quantidade de negros nas favelas continua aumentando, Vim para lembrar que a
quantidade de negros freqüentando os bancos universitários é pouca, que quando
ocorre ações afirmativas, como as cotas, a elite brasileira arruma diversas
justificativas para acabar, sim sou negro, herdeiro das tradições africanas, e
meus avós foram queimados pelo sol da África, me chamem do que vocês quiserem
não me chamem de marrom bombom, nem de
chocolate nem de mulatinho, eu sou negro.
(VAI LIBERTANDO OS NEGROS ATRÁS UM A UM ,
COLOCA O COMPRADOR E O VENDEDOR PARA FORA DA CENA, OS NEGROS QUE FORAM LIBERTOS
COMEÇAM A CANTAR A MÚSICA DE JORGE BENJOR – ZUMBI)
Angola,
congo, benguela
Monjolo
Angola gongô benguela
Monjolo capinda nina
Quiloa rebolo
Aqui onde estão os homens
Quiloa rebolo
Aqui onde estão os homens
Há um grande leilão
Dizem que nele há
Um princesa à venda
Que veio junto com seus súditos
Acorrentados num carro de boi
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Angola gongô benguela
Monjôlo capinda nina
Quiloa rebolo
Aqui onde estão os homens
Dum lado cana de açúcar
Do outro lado o cafezal
Ao centro senhores sentados
Vendo a colheita do algodão tão branco
Sendo colhidos por mãos negras
Eu quero ver
Eu quero ver
Eu quero ver
Quando Zumbi chegar
O que vai acontecer
Zumbi é senhor das guerras
È senhor das demandas
Quando Zumbi chega e Zumbi
É quem manda
Eu quero ver
Eu quero ver
|
Eu quero ver
8ª CENA
VIII – O NEGRO RESISTE BUSCANDO GARANTIA DO
ESPAÇO
COLOCAR
VARIAS CENAS QUE RETRATAOS NEGROS E SEUS PROBLEMAS AFIRMAÇÕES POSITIVAS DO
COTIDIANO... DEPOIMENTOS) ASSIM ENTRA NA PRÓXIMA CENA.
(TODOS
ATORES ENTRAM EM CENA, OS RETIMISTAS TOCA VELHOS SAMBAS ENREDOS, OU ALGUMAS
MÚSICAS DE CLARA NUNES, DANDO UM TRANQUILIDADE AO AMBIENTE, UM SOM MUITO NÃO
ALTO)
NEGRA 1 – ( ENTRA COMO UMA ESTUDANTE)Toda vez que
chego na sala de aula, a professora pergunta, - Menina que cabelo é esse? Eu
fico na minha e finjo que nem escuto. Noutro dia logo depois da chamada, a
mesma coisa, (fala com espanto) -
menina que cabelo é esse? Eu tava conversando com o
pessoal nem liguei, só que hoje a coisa foi diferente... tá lá eu sentadinha,
linda como uma deusa do ébano, na hora da chamada, a dita professora olha pra
minha cara foi logo perguntando, - menina, que cabelo é esse, eu levantei e
disse bem alto, - È CABELO DE NEGRA, É
CABELO DE PRETA ENTENDEU? FOI O MAIOR MAFUÁ,levaram ela pra coordenação e nunca
mais veio com essa história, Tô certa?
(SAI
DANÇANDO OU SAMBANDO E VAI SE JUNTAR OS RITMISTAS E CANTAM TRECHO DE OUTRA
MÚSICA PARA A ENTRANDA DO PRÓXIMO ATOR.)
ATOR 1 – Semana passada vi um anúncio no jornal e
como tô a seis meses sem trabalhar fui lá na agência, quando cheguei logo cedo,
a recepcionista me olhou da cabeça aos pés......eu fiz que não tava vendo,
entreguei certinho meu currículo, e ela disse :
(ENTRA ATRIZ)
ATRIZ – A vaga já foi preenchida!
ATOR 1 – Como? O anúncio saiu ontem , domingo, e hoje já esta
preenchida?
ATRIZ – A vaga é pra recepcionista de hotel, e você não preenche os
requisitos.
ATOR 1 – Requisitos? Eu falo duas línguas, dá pra
você?
ATRIZ – Tem uma vaga de porteiro, aceita?
ATOR – Não, no jornal a vaga é de recepcionista e não de porteiro, eu
quero a de recepcionista!
ATRIZ – Nesse hotel ta difícil, agora se fosse lá
na Bahia aí....
ATOR – Como é
história?
ATRIZ – NÃO...eu to dizendo que lá tem mais....
ATOR – Não precisa explicar, eu entendi direitinho... deixe eu ligar pro
disque racismo e vc vai ver o que é bom pra tosse.....
ATRIZ – não moço eu só queria dizer que...
(DEIXA A ATRIZ DO LADO E FALA)
ATOR – liguei sim, denunciei o racismo e não tive pena não, racismo é
crime estou certa ? A cidadania tem que ser para todos!
(CONTAGIA-SE
COM A MÚSICA DE FUNDO E SAI DANÇANDO.)
9ª CENA –
AS MULHERES GUERREIRAS NEGRAS
(ATORES
ENTRAM CANTANDO A MÚSICA “OROMILA” COM
JARRAS DE BARROS NOS OMBROS ENXENDO DE AGUA, LAVANDO ROUPAS, APENAS TRÊS. EM SEGUIDA ENTRARIA
AS OUTRAS E DANÇAM O MACULÊLÊ.)
NEGRA 1– SAUDAMOS ELAS, AS GUERREIRAS DE ONTEM, SUA
FORÇA NOS CHEGA ATÉ HOJE, PARA CRIAR AS CRIANÇAS E TRABALHAR, MESMO O COTIDIANO
DIZENDO NÃO.
NEGRA 1 – TRABALHANDO E GANHANDO POUCO SENDO
DISCRIMINADA O TEMPO TODO, Á FORÇA BRUTA DO CAPITALISMO NÓS DIZEMOS, NÃO!
NEGRA 2 – CONTRA A EXPLORAÇÃO DOS SENHORES PATRÃO,
E TODAS AS FORMAS DE DESCRIMINIÇÃO, EU GRITO NÃO!
NEGRA -1 – NEGRAS DE TEJUCUPAPO, NEGRAS DAS ESCOLAS
DE SAMBA, NEGRAS GUERREIRAS, NEGRAS ESQUECIDAS, CLEMETINAS DA VIDA, SEMENTES DA
REVOLUÇÃO!
(FINALIZANDO
COM UM RODA DE SAMBA, DANDO ESPAÇO PARA A PRÓXINA CENA COM TODOS)
10ª CENA
– O QUILOMBO URBANO.
(TODOS OS ATORES ENTRAM EM CENA, DIZENDO UM POEMA
DE DE DOM HELDER CÂMARA, O SEGUINTE)
SEJA QUAL FOR...
Seja qual
for a cor da tua pele,
A
configuração de teus lábios,
E
de teu nariz,
Seja
qual for a tua estatura,
Não
és nem um sub-homem,
Nem
um super-homem
Tu
és um homem
Tu
tens uma cor,
Aspirações,
sonhos,
...
Se pertences a um clã,
A
uma família,
A
uma Cultura,
Tu
pertences,
Primeiro
à família humana
Seja
qual for a tua língua,
E
o país de onde vens,
Nós
somos capazes
De
compreender-nos
Por
toda parte,
A
bondade comove,
A
injustiça fere,
A
paz é um ideal.
Conserva
a tua língua,
Porém
marcha com homens de línguas diversas,
Distantes
da tua,
E
que desejam como tu...
Um
mundo mais justo e mais humano.
(ENCERRANDO TODOS CANTANDO A MÚSICA QUILOMBO)
Irmão, Irmão
Assuma sua raça assuma sua cor
OOOOOOO.....
Essa beleza negra Olorum quem criou
OOOOOOO....
Vem para o Quilombo Axé
Cantar em Nagô
Todos unidos num pensamento
Defendendo as origens nesse Carnaval
Nesse palco colossal
Pra denunciar o racismo
OOOOOO
E contra o arpatahid brasileiro
OOOOOO
Treze de Maio não é dia de Negro
Treze de Maio não é dia de Negro
========================================OU=================
Quilombo Axé
(Zumbi Bahia)
Quilombo Axé é Raça
É energia
É o negro
Que comanda a massa
Com harmonia
Sublime é o axé que tem
A negra cor
O sangue
Que jorrou na terra
Dos ancestrais
Imaplantou cultura
E canto aqui
Yorubá
Dança Yorubá,
Cante Yorubá.
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